Escolher entre sorvete de baunilha e de chocolate pode ser muito mais difícil do que você pensa. A baunilha é suave, gentil e doce, já o chocolate é forte, sexy e picante.
Escolher entre um e outro depende de muitas variáveis: a temperatura do dia, seu humor atual, se está sozinho ou acompanhado, a roupa que está usando, enfim, vamos a um exemplo, se for verão, você estiver vestindo uma blusa branca e tentando impressionar seu acompanhante na sorveteria, dificilmente vai pegar o de chocolate, a não ser que queira pingos marrons no branco de sua roupa e seu acompanhante rindo da sua lambansa.
Mariana sabia que mesmo as decisões mais simples envolviam uma complexa rede de prós e contras, a primeira, única e mais inteligente escolha que Mariana fez foi a de jogar toda essa responsabilidade nas mãos da Sorte.
Ai-bai-bia e minha mãe mandou eu escolher o sorvete de baunilha; a coroa da moeda de 25 centavos disse que a raiz quadrada de 75 é a alternativa “B”; as pétalas da margarida sussurram que ele bem-me-quer e o dado exigiu que eu vá para Bahia nas férias de verão. Decisões práticas, rápidas e sem vítimas.
Essa Mariana deve ter um santo muito forte, ou então tem um pacto com o cara lá de baixo, ou de repente só tenha um bom carma, não sei, mas eu aposto a minha mão direita que alguma coisa ela fez pra conseguir a simpatia da Sorte.
A Sorte é uma velha reclamona cheia de botox na testa, até que ela é bem enxuta para sua idade, mas veja bem, se eu tivesse milhares de pessoas me idolatrando e jogando dinheiro em cima de mim eu também seria uma velha enxuta.
Você sabe quantas Marianas existe no mundo? Muitas. A velha Sorte acaba ficando sobrecarregada, coitada, é nessas horas que entra em cena o amante ciumento e superprotetor da Sorte, o Azar. Ele fica realmente zangado quando vê sua amada tão atarefada, ainda mais quando essa tarefa envolve jovens ricos em cassinos luxuosos, o Azar coloca todo mundo pra correr. Bem feito.
Enquanto o par romântico se diverte eu fico aqui sentada, só olhando de longe, nunca nem vi uma injeção de botox, muito menos um jovem rico, até as Marianas já me esqueceram. Sou a velha gorda que manda todo mundo escovar os dentes antes de dormir, devolver a nota de 10 reais que caiu do bolso daquele moço e ir de pé no ônibus lotado para dar lugar à uma barriguda de 7 meses. Posso contar nos dedos quantos amigos eu tenho, mas tudo bem, não é todo mundo que consegue suportar o peso da gorda e chata Consciência.
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