PRESENTEANDO
Ela nunca se sentira tão presente, tão consciente sobre si e sobre tudo, ou quase tudo - o que é mais do que o suficiente.
Todos olhavam o que ela via, mas ninguém via como ela.Faltavam-lhes aqueles olhos famintos de quem quer sentir com todos os sentidos. Experimentar cada pedacinho. Cada som, cada cheiro... nem o fogo na parede que subia das velas, escapou aos olhos dela.
Ela degustava o tempo, engolia o momento - um a um. Sem pressa. Mais tarde, diria: - Que belo cantinho para abraçar.
A música chorava na viola, no saxofone e no pandeiro. Balançava a alma. O cheirinho de feijão no fogo dava as notas de fundo. E as velas, descontroladas e ardentes, decoravam o mundo.
Ela se sentia quase que uma intrusa, ali, de cantinho... engolindo tudo.
Sem pedir licença nem permissão, foi dançar pelo salão. Entre um rodopio e outro, ela tonteou. E virou.
Virou verso, virou música, virou ela mesma, os olhos para o mundo.